Apesar da escassez de dados confiáveis para pesquisa, os historiadores citam a Índia como berço do Bramanismo, uma das mais antigas religiões. A doutrina bramânica, nos seus primórdios, compunha-se de postulados esparsos, sem qualquer ordenação e era transmitida oralmente através de cânticos.
Cerca de 14 séculos a.C., um sábio brâmane recebeu o nome de Vyasa (compilador) por seu trabalho, e ordenou adequadamente a religião brâmane. A sua fixação, entretanto, só ocorreu por ocasião do surgimento da escrita na Índia, entre os séculos IX e VIII a.C.
Os ensinamentos védicos, escritos em sânscrito, passaram a constituir os Vedas ou Livros do Conhecimento Sagrado, a obra religiosa mais antiga de que se tem notícia. Rigveda, o mais conhecido dentre eles, consta de hinos de aparência simplesmente devocional, mas que encobrem o segredo da Criação. Apenas os sacerdotes e iniciados distinguiam a verdade escondida sob o véu das alegorias.
O Bramanismo, também conhecido por Induísmo, exotericamente desenvolveu-se, sofreu modificações, foi adulterado e, com o passar dos tempos, entrou em decadência, como é usual acontecer com as religiões. A sua essência, no entanto, continua inalterada e preservada pelos Mistérios, em santuários da Índia. A doutrina original pode ser resumida em Cinco Princípios, dos quais decorrem as demais diretrizes:
1 - Um Deus Único com Tríplice Manifestação (Trindade Divina). "O Ser Supremo se imola a Si próprio e Se divide para produzir a Vida Universal".
2 - A Natureza Eterna do Mundo "Ele sempre foi e sempre será. O mundo e os seres saídos de Deus voltam a Ele por uma evolução constante".
3 - A Reencarnação "Há uma parte imortal do homem que é aquela, ó Agni, que cumpre aquecer com teus raios, inflamar com teus fogos. De onde nasceu a Alma? Umas vêm para nós e daqui partem, outras partem e tornam a voltar".
4 - O Carma "Se vos entregardes aos vossos desejos, só fareis condenar-vos a contrair, ao morrerdes, novas ligações com outros corpos e outros mundos".
5 - O Nirvana "Estado de não desejo". O mais puro e íntegro da alma, livrando-a em definitivo da roda das encarnações. Considerado o coroamento da Perfeição. As Escolas Iniciáticas demonstravam cabalmente, na teoria e na prática, a relevância de alcançar o Nirvana, para se chegar a Deus. Para atingir essa condição, o Ego precisa se libertar de todos os desejos, mesmo os originados de sentimentos bons e altruístas. O Nirvana é um estado de consciência tão íntegro que toda doação é prestada naturalmente e não em decorrência de inclinação sentimental.
As Castas
Supõe-se que não faziam parte do corpo doutrinário original. Apesar de ser um preceito bastante antigo, parece constituir um adendo incluído em remotas épocas, pela mão imperfeita do ser humano. Prega a divisão em castas como conseqüência do Carma, pela qual o indivíduo por comportamento de vidas anteriores, renasce em determinada posição social, sofrendo efeitos decorrentes dessa circunstância. Tal proposição, rejeitada pela maioria dos reformadores do bramanismo, conforma uma tese a ser discutida, demonstrando a pequenez do ser humano, razão pela qual deve ser extinta, pois existem inúmeras maneiras de a Lei ser exercida, sem o agravamento maior imposto pela sociedade. A aceitação da divisão em castas significaria o mesmo que aprovar a escravidão, já que seriam escravos apenas os que construíram, em vidas passadas, as causas que ocasionaram esse efeito. Fica exposta a tese para que cada um escolha a que mais lhe esteja de acordo.
Conforme ensinado sigilosamente nos santuários, Agni, o fogo, é o símbolo do Eterno Masculino ou Espírito Criador. Soma, o licor do sacrifício, é o símbolo do Eterno Feminino, Alma do Mundo, Substância Etérea. Em Sua união perfeita, esses dois Princípios Essenciais do Universo, essa dualidade, constituem o Ser Supremo - Zians, ou seja, Deus.
O céu, o inferno e o processo de vidas sucessivas, regulamentados pelas leis de Manu, constam do Manava-Darma-Sastra, ou Livro das Leis, com especial sistema de sanções. Nele, o inferno, denominado de Naraca, é apresentado como forma de planos, vinte e um dos quais são particularmente descritos. Para o povo, mostravam-no simbolicamente, como todas as religiões, como sendo local tenebroso de trevas e tormentos, onde o fogo que purifica,queimava os maus. O céu também é classificado em planos na doutrina secreta, e era designado por Svarga.
Como o inferno, consiste em estados de consciência, difícil de ser compreendido mesmo pelos maiores conhecedores do assunto. Por isso, popularmente explicavam-no como um jardim de delícias, com a luz brilhando perpetuamente, onde os bons gozavam de bem-aventurança. Esses simbolismos, como todos os outros, tomados ao pé da letra, desfiguraram o verdadeiro pensamento, mostrado exclusivamente nas Escolas Iniciáticas. A massa, familiarizada apenas com as exterioridades, manteve esses conceitos desvirtuados, forma com que chegaram aos tempos de hoje, vez que a Verdade sempre permaneceu no hermetismo da doutrina. Outros Livros Sagrados complementam o acervo religioso da Índia.
Os Brâmanas, comentários sobre os Vedas, delineiam uma fase da modificação da primitiva doutrina. Os Upanixades, significando literalmente Sentar-se sob um Mestre, revelam período diverso de alteração dessa religião. Os ensinamentos neles contidos, antes de serem fixados pela escrita, eram transmitidos secreta e oralmente pelos sacerdotes que os consideravam demasiado sagrados para serem conhecidos por leigos. Posteriormente, quando transformados em Livros, continuaram reservados exclusivamente aos que tinham acesso aos Mistérios. Constituem a base da moderna filosofia hindu. Eis uma das mais poéticas pregações de Amor, contidas nos Vedas e repetidas com outras palavras em todas as religiões: "Sê, para teu inimigo, o que é a terra que recompensa com fartas colheitas o lavrador que lhe rasga o seio. Sê, para aquele que te aflige, o que é o sândalo, que perfuma o machado do lenhador que o corta".
A Grande Renovação do Bramanismo
Quando os ensinamentos védicos foram completamente esquecidos pelo povo e, em seu lugar surgiram as grandes aviltações da idéia-mãe, um iniciado com o nome de Krishna, criado por ascetas que viviam retirados junto ao Himalaia, saindo de seu isolamento, renovou a religião primitiva. A história de sua vida e os princípios por ele defendidos são conservados até hoje em Livros Sagrados, nos santuários do sul do Industão. Como Jesus, Krishna, acompanhado de discípulos, saiu a pregar pelas vilas e cidades, sacrificando-se para implantar a doutrina. Alguns historiadores atribuem a ele a autoria de dois Livros Sagrados da coleção religiosa da Índia: Ramaiana e Maabárata. Outros, por falta de comprovação efetiva, julgaram mais prudente reputá-los como de autor desconhecido.
Ramaiana significa As Aventuras de Rama e relata em cerca de vinte e quatro mil estâncias, as façanhas do deus Vishnu, o Preservador, quando em sua sétima encarnação apareceu como o príncipe Rama, para salvar a humanidade. Maabárata, ou A Grande História dos Irmãos, narra os acontecimentos de outra encarnação de Vishnu, como Críxena. São de difícil entendimento, expondo tanto a doutrina, quanto acontecimentos históricos do país. O Maabárata ficou famoso e até hoje é consultado, mesmo fora da Índia, devido ao relato do 18º dia de uma batalha, durante o qual o general Arjuna discute com seu cocheiro Críxena o significado da vida e da morte. Tal narrativa é conhecida como Bhagavad-Gita, ou A Sublime Canção da Imortalidade. Mahatma Gandhi dizia que quando as decepções o avassalavam e não conseguia vislumbrar nenhum raio de luz, recorria ao Bhagavad-Gita, único bálsamo para suas desesperanças. Krishna, além de renovar os princípíos védicos, emprestando-lhes uma cara nova, poética e mais atualizada para a ocasião, falava aos discípulos de sua missão, aconselhando-os a guardar silêncio sobre as Verdades aprendidas com ele: "Revelei-vos os grandes segredos. Não os digais senão àqueles que os podem compreender. Sois os meus eleitos: vedes o alvo; a multidão só descortina uma ponta do caminho." Por essas palavras fica compreendido que, desde então, já os Mestrespregavam simbolicamente ao povo, reservando a poucos escolhidos os segredos dos Mistérios. As pregações populares de Jesus se assemelham muito as de Krishna. Eis apenas duas delas, para mostrar tal similaridade: "Se conviveres com os bons, teus exemplos serão inúteis; não receeis habitar entre os maus, para os reconduzir ao bem".
Quando os fariseus criticavam Jesus por comer com os publicanos e pecadores, Ele disse: "Não são os homens de boa saúde que necessitam de médico, mas sim os enfermos. Não vim chamar à conversão os justos, mas sim os pecadores." - "As obras inspiradas pelo amor de nossos semelhantes, são as que mais pesarão na balança celeste." Esta máxima representa o "Amai-vos uns aos outros", de Jesus (Assim pensa o autor do texto). Todos os ensinamentos de Krishna traduzem nada mais do que os fundamentos védicos, e ponderados e meditados, podem trazer luz à alma, permitindo ao homem encontrar o caminho adequado para seu crescimento espiritual. Krishna forneceu a resposta mais sábia à pergunta constante e milenar dos que reclamam a elucidação da Essência e dos Desígnios de Deus: "Só o Infinito pode compreender o Infinito. Somente Deus pode compreender Deus". Selando sua Obra com o próprio sangue, deixou a Terra, legando à Índia a mais bela e verídica concepção do Universo e da Vida. Nesse ideal superior ela se manteve durante milhares de anos.
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