A Tradução Novo Mundo das Escrituras Sagradas (obs.: das Testemunhas de Jeová), revisãode 1986,verte assim o texto de João 1:1:
"No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com o Deus e a Palavra era [um] deus".
O objetivo deste pequeno trabalho é mostrar que a última parte do versículo ("a Palavra era [um] deus") foi traduzida de forma arbitrária, sem obedecer as regras gramaticais da língua grega dentro do contexto semântico do Novo Testamento. Entendemos que a tradução correta é aquela utilizada pela maioria das versões: "a Palavra era Deus".
Reativando este tema bastante discutido no passado, esperamos contribuir para o fortalecimento das convicções dos que amam e crêem na Palavra de Deus, e para trazer certeza aos que se encontram na dúvida.
Os termos gregos do texto em questão, representados pelos caracteres latinos correspondentes, ficam assim representados:
THEOS EN HO LOGOS . Segue-se a análise gramatical de cada palavra com sua tradução:
THEOS - substantivo, masculino singular, predicativo do sujeito.........[Deus]
EN - 3ª pessoa do singular Imperfeito do Indicativo, do verbo EIMI.......[era]
HO - artigo masculino singular (feminino em português).....[a]
LOGOS - substantivo, masculino singular, sujeito........[Palavra]
Estamos diante de uma oração onde dois substantivos (THEOS e LOGOS) são relacionados através do verbo de ligação (EN). O substantivo THEOS não vem precedido de artigo mas substantivo LOGOS está precedido pelo artigo definido HO. Em construções deste tipo, com o verbo na 3ª pessoa, o sujeito da oração é indicado pela presença do artigo diante do substantivo. Em grego não existe o artigo indefinido como em português ou inglês. Contudo, a ausência de artigo definido não indica necessariamente que a tradução deva ser feita com uso do artigo indefinido, seja em português, seja em inglês.
O professor Jean Humbeit, mestre conferencista da Sorbonne, em seu livro "Sintaxe Grecque", assim se expressa à página 44, quanto ao uso do artigo grego: (a tradução é minha)
"O artigo pode definir o indivíduo que está em questão e o conjunto de indivíduos que formam um grupo ou uma espécie. Inversamente, a ausência de artigo implica uma impossibilidade de definir um indivíduo em particular, ou é um meio de exprimir "a espécie em si mesma", sem considerar as individualidades que a compõem".
A ausência do artigo, portanto, possui duas alternativas: impossibilidade de definir o indivíduo ou um meio de exprimir "a espécie em si mesma". Voltando ao texto em questão e aplicando o critério acima para ausência do artigo, concluímos inicialmente que a tradução poderia ser de duas maneiras:
1. Considerando uma impossibilidade de definir um indivíduo em particular, teríamos a seguinte tradução:
THEOS EN HO LOGOS = A Palavra era um deus. Neste caso, "um deus" estaria indicando a impossibilidade de dizer qual dentre os deuses individualmente considerados "A Palavra" seria. Embora seja uma tradução gramaticalmente possível não é aceitável semanticamente no contexto da Bíblia, onde há um só Deus verdadeiro, isto é, não existe uma quantidade de deuses maior do que um possibilitando criar uma indefinição em torno do vocábulo 'Deus'.
2. Utilizando a alternativa restante que é um meio de exprimir "a espécie em si mesma", sem considerar as individualidades que a compõem, a tradução seria, então: "A Palavra era Deus." Fica assim indicado que "A Palavra" era da espécie de "Deus", que biblicamente é única, sem considerar as individualidades que a compõem. Esta tradução, além de gramaticalmente correta, tem um sentido semântico coerente com o conteúdo bíblico. Nas Escrituras, ora o termo 'Deus' é uma pessoa individualizada, ora é essência ou espécie.
Podemos concluir que a versão correta para o texto em estudo é: "a Palavra era Deus". Não está sendo dito que a Palavra era o Deus Pai, mas que a Palavra era Deus em essência, qualidade ou espécie. O substantivo THEOS (Deus) está numa função adjetiva, qualificando o sujeito da oração HO LOGOS (a Palavra).
Referencia bibliográfica
Humbert, Jean. "Sintaxe Grecque". Paris: Libraire C. Klincksieck, 1954, pág. 44.
Mário Hygino - Professor de português e grego.
Fonte: Jornal Desafio das Seitas nº 31
Fonte: Jornal Desafio das Seitas nº 31
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