Desilusão, angustia, perda da confiança em si mesmo, medo de voltar ao estilo de vida anterior ao do envolvimento com a seita, tensão, incerteza, crise de identidade, falta de rumo, etc. Estas são as companhias constantes de quem abandona uma seita herética. Muitos se descrevem como "arrasados, mutilados"; outros dez anos após terem deixado o grupo ainda permanecem nesse estado. Alguns partem para novas experiências religiosas em busca da "única igreja verdadeira", vão de igreja em igreja, decepção seguida de decepção. Ainda há aqueles que tentam recuperar o tempo perdido e passam a dispensar maior atenção as relações familiares, ao emprego, aos estudos, enquanto deixam Deus de fora de suas vidas. A Dra. Margaret Thater Singer, como resultado de uma pesquisa intensa feita com 3000 mil ex-sectáristas observou entre eles:
"Casos significantes de depressão, solidão, ansiedade, baixa auto-estima, superdependência, confusão, inabilidade para se concentrar, psicoses"[1] .
Isso tudo é conseqüência de se ter estado associado a uma seita destrutiva que abusa emocional e espiritualmente do indivíduo. Steve Hassan, autor de "Combatendo o Controle Mental das Seitas"[2] , faz uma lista de quatro marcas básicas do controle mental exercido pelas seitas:
Controle Emocional
A chave deste controle esta no temor e na culpa, também chamado de "inculcação" de fobias . O membro da seita desenvolve a paranóia de que Satanás esta a espreita para caçar-lhe se em qualquer momento questionar a organização religiosa ou por alguma razão, a abandone, ...Ele e sua família morreriam de forma horrível se afastarem.
Controle de Conduta
É reforçado aos membros toda classe de regras peculiares, normas sobre vestimentas e outras coisas não especificadas na Palavra de Deus. Novos modelos de comportamento são apresentados, como as visitas de porta a porta, a assistência a varias reuniões semanais, novas atitudes para com os dissidentes e na seqüência, o ensinam que ele é perseguido por suas crenças.
Controle de Pensamento
Emprega-se uma linguagem carregada de termos peculiares do grupo, tais como: novo sistema, teocrático, organização de Deus, a verdade, apostatas. Tudo é branco ou negro; a entidade é boa e todas as demais são do Diabo. Existem respostas para todas as tuas perguntas, pois assim o membro não necessita pensar por sua própria conta.
Controle de Informação
Aos membros é proibido qualquer acesso a informação critica sobre o movimento. O membro sempre esta ocupado lendo suas próprias literaturas e assistindo a reuniões. Dentro da estrutura piramidal do movimento existem diversos níveis de conhecimento. Também são escondidas informações dos que estão fora, de maneira que eles tenham publicamente uma imagem benigna.
Muitos por desconhecerem estes aspecto das seitas acham que os ex-sectaristas sofrem inteiramente de problemas espirituais e nada mais. Pessoas que fizeram parte de uma seita têm problemas e necessidades especiais. Umas das dificuldades é que encontram má compreensão e invariavelmente estigma, na comunidade evangélica. Os apologistas Ronald M. Enroth e J. Gordon Melton, lançaram um grande desafio em um de seus excelentes livros:
"Nós desafiamos os cristãos para estenderem companheirismo e amizade para esta nova minoria os ex-sectaristas"[3] .
A grande maioria daqueles que saem de uma seita sofrem enormes privações. Isso implica no fato que temos o dever moral de ajudá-los, não somente levando-os a Jesus Cristo, mas dando-lhes assistência no que for necessário para que reestruturem suas vidas. Nos últimos anos houve um crescente crescimento da apologética em nosso país, vários livros foram lançados expondo o erro religioso e defendendo magistralmente a verdade, porém a igreja cristã permanece apática na sua compreensão dos afeitos danosos que o envolvimento com grupos pseudos-cristãos traz ao indivíduo e a sociedade como um todo, sem contar naqueles que chegam feridos em nossas igrejas e permanecem com várias seqüelas por causa de seu anterior envolvimento sectário. Eles carecem de um envolvimento intenso e relacional com cristãos maduros que os oriente não somente a abandonar falsos ensinos e aprender as verdades bíblicas, e essencialmente o amor incondicional do Salvador.
Em junho de 1980 cristãos de vários países se reuniram em Pattaya, Tailândia, sob o patrocínio da comissão de Lausanne para a Evangelização Mundial afim de tratar de questões pertinentes a obra de evangelização mundial. Um dos temas pulsantes desse congresso foi a "Mini Consulta para a Evangelização de Místicos e Sectaristas"[4]. Na ocasião foram dadas preciosas instruções sobre o aconselhamento de pessoas que fizeram parte de uma seita. Seguem abaixo algumas sugestões (com adaptações) apresentadas naquele encontro que são vitais àqueles que desejam ajudar um ex-sectarista:
Acompanhamento: Freqüentemente, os que abandonam uma seita religiosa são muito desconfiados e assustados. Eles precisam de muito de segurança e de compreensão. Ele precisa ser abordado com gentileza amor e respeito. O anterior grupo e seus líderes não devem serem escarnecidos ou atacados. Isso provocaria uma atitude defensiva. É essencial descobrir por que ele (ou ela) se uniram ao grupo. Pode haver muitas razões. Estimule-o a falar sobre isso. O calor e a aceitação pessoal, por um lado e o espírito de oração no intuito de triunfar no conflito espiritual, por outro lado são os fatores chaves. São mais importante que a lógica e a argumentação[5]. Entretanto , é necessário ter um bom conhecimento dos ensinamentos do grupo, e ser capaz de questioná-los polidamente, porém com firmeza, com base na Palavra de Deus. Pode ser importante insistir várias vezes sobre alguns pontos simples, quando ex-sectarista se mostrar confuso.
Cuidado para não manipular ou fazer ameaças! Enquanto oramos e alimentamos a esperança de que ele posso estar desenvolvendo a cada dia seu relacionamento com Jesus Cristo, precisamos tomar cuidado para não tirarmos vantagem de seu estado de confusão mental. Nossa primeira responsabilidade é encorajá-lo e ajudá-lo a entender tudo que passou e a libertar-se dos traumas oriundos de sua anterior experiência religiosa. Do contrário, estaremos sendo culpados de violar sua personalidade, exatamente como fez o grupo aliciante.
A tarefa de assumir a "paternidade espiritual" (o cuidado) pode ser extremamente exigente. Requer tempo, paciência, recursos emocionais e energia espiritual. É preciso lutar em oração! Incentive-o na leitura da Bíblia (Hebreus 4:12). Ponha-o em contato com outros que tem o mesmo transfondo religioso e que experimentaram a Graça irresistível de Deus em suas vidas.
Pode-se levar meses ou até anos para a recuperação total de um ex-sectarista. Porém, é extremamente gratificante ver cada dia o progresso deles na fé e a cada momento conhecendo mais da amabilidade, misericórdia e fidelidade de Deus em suas vidas. (Êxodo 34:6), entendendo assim que a Graça de Deus é suficiente para a cura de feridas e traumas passados.
Autor: Pastor Wagner S. Cunha
NOTAS
[1] "Coming Out the Cults", Psychology Today, Aug.1984, p.27.
[2] "Combatting Cult Mind Control, (Park Street Press, 1988).
[3] "Why Cults Succed Where the Church Fails - Elgin. III: Brethren Press,1985, pg. 98, 99
[4] O relatório completo sobre esta "mini consulta" foi editado no Brasil em 1984, com o titulo de "O Desafio das Novas Religiões" (Ed. ABU e Visão Mundial)
[5] Harold L. Busséll em seu excelente "Unholy Devotion" ( 1983, Zondervan Corporation) diz que a maioria das pessoas são atraídas pelas seitas por fatores psicossociológicos não tanto pela doutrina.
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